segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Estamos todos bem

Não sei se é uma questão comportamental, geracional ou social. Também não sei se é pelo fato de estarmos, nós brasileiros, pela primeira vez nos sentido poderosos, ou se os Facebooks e Twitters da vida trouxeram a era da "vida na vitrine". Ou, quem sabe ainda, as relações tornaram-se mesmo mais superficiais e plurais e as pessoas, mesmo que se comuniquem a todo instante, simplesmente não são mais capazes de se abrir.

O fato é que me sinto num mundo onde tudo vai bem. Todo mundo está feliz, as vidas são ótimas, trabalhos maravilhosos, viagens incríveis, celulares de última geração, os melhores amigos, melhores restaurantes, estamos todos bem. Quando foi a última vez em que você se lembra de ter encontrado um amigo e ele lhe contou como vai mal? E quando trocou um e-mail com alguém querido, no qual essa pessoa lhe pedia ajuda, seja financeira ou para dividir o fim de um relacionamento? Estamos todos bem.

Me peguei pensando nisso ao ler esse artigo do NYTimes sobre como a crise mudou o comportamento do americano. Se antes o consumismo frugal parecia ser sinônimo de felicidade, hoje a tendência é buscar a satisfação em experiências, estas mais perenes na memória, ampliam a sensação de bem-estar. Agora as empresas precisam se virar para vender este sonho.

Por aqui, o movimento parece oposto. Essa tal Geração Y, da qual faço parte, parece ter tudo que seus pais não tiveram, ou demoraram a ter. Com pouca idade, já viajaram meio mundo, tiveram dois ou três carros, todos os laptops do momento e conhecem do bom e do melhor. Como que num esforço para compensar e, quem sabe, superar os esforços daqueles que nos antecederam, somos eternos insatisfeitos, com uma ambição que beira o descontrole. É a geração do mais, do melhor.

Estamos todos bem, mas estamos todos felizes?

Por que é tão difícil admitir o fracasso, o sofrimento, a perda? Espera-se de nós que estejamos sempre bem? Em um mea culpa, me lembro de ter passado as primeiras doze horas após um acidente de carro que sofri há alguns anos dizendo para todos "está tudo bem". Da mesma maneira que reconheço essa expressão, quase automática, repetida à exaustão e sob todas as formas, sejam fotos nas redes sociais, smiles nos e-mails ou ligações para um amigo que não encontramos há séculos e que se resumem, no fundo, ao "está tudo bem, tudo ótimo".

Se isso é estar bem, puxa, então estamos muito mal.

Um comentário:

  1. Reflexão muito pertinente! Olha, geracional eu diria que não é. Digo isso por causa de uma experiência vivida pela minha mãe há algumas semanas, quando ela foi encontrar as amigas de infância, que há 30 anos terminaram a escola juntas. Quando perguntou pelo pai de uma delas, ouviu a seguinte resposta: "Ah, tá tudo bem com papai. Está cego de um olho, vai ter que operar o coração de novo, mas tá bem". Oi?
    Não estaríamos todos anestesiados pela cobrança de ter que estar bem sempre, mesmo quando os fatos dizem o contrário?

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