terça-feira, 30 de agosto de 2011

E você faz o que mesmo?


- Peraí. Você trabalhou numa agência, então deve ser publicitária.
- Não. Sou jornalista.
- Ah, em que jornal você trabalha?
- Na verdade trabalho para ou em empresas.
- Hum... sei.

Sabe nada. Ao longo dos anos, aprendi que é mais fácil dizer simplesmente que trabalho com comunicação. A verdade é, mesmo jornalista de formação, nunca trabalhei em uma redação. O mais próximo disso foi um longo estágio na Globosat, com TV, mas não reportagem. Minha área sempre foi comunicação corporativa, RP, assessoria de imprensa, PR, como preferir. E ainda que esta seja uma das maneiras mais antigas de se trabalhar a comunicação, poucos parecem entender o que, de fato, eu faço.

Minha família até hoje não compreende quando me vê comemorar uma baita matéria no Estadão: - mas cadê o seu nome aqui?
Outro dia, tentei explicar para o professor da academia exatamente no que consistia meu trabalho: - você então joga uma conversa no jornalista para ele falar bem da empresa, é isso?
E ainda há muita, mas muita gente que pense se tratar de propaganda: - são aqueles anúncios na TV. Isso sem contar o desprezo sofrido por muitos colegas de redação, que enxergam o trabalho deles como isentos, mas o nosso, comprometido. Tá bem. (ainda, vale dizer, que muitos estejam migrando para PR).

Como assessor de imprensa/relações públicas, é preciso entender de tudo um pouco. Você precisa saber de marketing e vendas, para adequar sua estratégia de comunicação, mas precisa entender de finanças, para desvendar aqueles indecifráveis balanços. Também tem que compreender as minúcias jurídicas e operacionais de modo a prever possíveis situações de crise. Sem contar nas habilidades de negociação, jogo de cintura, bom relacionamento e um toque de psicologia necessários. E precisa, claro, saber tudo sobre imprensa.

Pois é. A vida do outro lado do balcão não é tão simples, mas pode ser muito saborosa. Eu tenho a chance de escrever, uma das coisas que mais me dá prazer, e ao mesmo tempo, o luxo de contar histórias. Isso porque o momento áureo do nosso trabalho é quando conseguimos amarrar todas as pontas do business, de acordo com as prioridades corporativas, e contextualizá-las no interesse público - ou seja, de modo que seja relevante ao leitor e, consequentemente, à imprensa. Há ainda o enorme privilégio de lidar com profissionais das mais diferentes áreas e setores, entender como eles pensam e ter de traduzir isso. Manter o contato com meus colegas de redação, ter um olho na notícia e poder ler sobre tudo, sem ter que me especializar sob a desculpa de ser jornalista, é a cereja do bolo. Essa justificativa também funciona para explicar porque eu preciso estar em todas as redes sociais do momento e experimentar novidades. O que posso fazer, é meu trabalho estar bem informada!

Portanto, vocês podem continuar sem entender direito o que nós, esses seres estranhos do universo de PR fazemos, mas isso não tem a menor importância. Na verdade, esta é a beleza do ofício.

Nenhum comentário:

Postar um comentário