sexta-feira, 10 de julho de 2009

Balanço Flip 2009 – dia 2

Ufa! Depois de muita correria, voltei para contar sobre meu último dia de Paraty.

O domingo começou cedo e com algum sol iluminando o clima nostálgico do final da Flip. Fomos direto para a Tenda dos Autores assistir a mesa do historiador Simon Schama, autor do livro O futuro da América, sobre as eleições primárias norte-americanas de 2008. Fui surpreendida por um auditório lotado, com pessoas sentadas nos corredores, todos sentados esperando Lilia Schawarcz, que faria uma apresentação um tanto longa da carreira de Schama. Se os EUA habitam o imaginário dos brasileiros, sofremos também quando eles caem?

De início, Simon Schama mostrou que aquela não seria uma mesa como outra qualquer – levantou-se, microfone sem fio preso ao ouvido, e começou o que seria uma palestra-show, sem interrupções ou hesitações, exceto uma. Enquanto defendia explicitamente seu apoio a Barack Obama, uma mariposa intrusa pousou em seu ombro, ao que todos reagiram e ele, calmamente espantou o inseto e disse "Well, George Bush probably sent that".

Schama disse que o passado e o presente são arbitrários, na medida em que dependem do referencial. E também disse que, com tudo o que possa ser dito, os Estados Unidos são um país onde duas opiniões opostas podem se confrontar livremente. A mesma nação que é referência do mundo globalizado, até os dias de hoje guia sua política com se os fundadores, "the founding fathers" – os líderes da independência, Lincon, Adams, Franklin, Jefferson – ainda estivessem bem vivos no Capitólio.

Sobre como o Brasil e os EUA lidam com a questão racial, Schama disse que enquanto eles têm um discurso baseado no "Who do you think you are?", que remete à igualdade, nós partimos da postura "você sabe com quem está falando?", apelando sempre à hierarquia social.

Outro tema da mesa – e também do livro de Schama – a religião, ele resumiu ao citar Thomas Jefferson que indagava "does it break my bones or picks my pockets, if a man has one God, three Gods, twenty Gods, or no Gods?"

Em linhas gerais, Simon Schama, como o visitante anterior Gay Talese, quis dizer que a história é escrita no cotidiano, pelas múltiplas vozes que formam o conjunto social. E, sobre sua narrativa clara, explicou que deve-se escrever história não para acadêmicos ou seminários, mas usando todos os discursos disponíveis.

Depois de lá, muitas pessoas já estavam pegando a estrada. Nós ainda nos demos o direito de almoçar uma pizza e dar mais uma volta na cidade, até que também chegou nossa hora e viemos, de volta a São Paulo, onde o que me esperava era mais Gay Talese, terça-feira, no MASP.

A Flip é muitas coisas. É cult, é pop. É contemporânea e é antiga. É literária e é musical. É artística, conceitual, única. A Flip se não é, deveria ser um de nossos maiores orgulhos. Não há autor que não se sinta em casa – inclusive os estrangeiros. E não há leitor que não saia de lá com algum título anotado em seu caderninho. Mal posso esperar pela edição de 2010. E da próxima vez, quero ver mais, ler mais e ouvir mais.

Até!

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