Chegou ao fim ontem a 7a edição da Feira Literária Internacional de Paraty. Muito já se disse sobre o que aconteceu por lá. Inclusive, com ajuda da tecnologia, o público twittava durante as mesas, comentava matérias de blogs nas ruas, e mandava para os jornais fotos e registros pessoais dessa verdadeira festa.
Para mim, que presenciei pela primeira vez o evento, fica apenas o pouco de muito que consegui aproveitar.
A primeira ótima supresa foi que a cidade não estava tão insuportavelmente cheia quanto achei que fosse ficar. Era um movimento constante, alegre e disperso. O sol não apareceu, mas a chuva também não atrapalhou. Nada além de um esparso chuvisco no começo da noite de sábado.
Cheguei no começo da tarde do próprio sábado e, após alguns percalços, seguimos para um almoço com direito a filé de truta e cerveja. De lá, voltamos para a Tenda dos Autores, onde às 17h veria o Gay Talese ser entrevistado por Mario Sérgio Conti.
Talese, com seu inglês firme, eloquente e claro, discorreu sobre sua história. Começou contando sobre a época em que entreouvia sua mãe "entrevistar" as clientes que frequentavam a loja de seus pais, para aprender o que significava ser americana. Segundo ele, a pessoa que mais o influenciou na vida foi a própria mãe, nascida no Brooklyn e descendente de italianos. Toda sua narrativa oral, assim como a escrita, foi guiada por datas, nomes e fatos. E ele explica que sempre quis falar sobre personagens menores, tal como os que sua mãe sabatinava nos provadores:
"The story I wanted to write was the simple stories of simple people. (...) those people who don't make the news, but reflect it."
Para o autor, o importante era escrever sobre estas pessoas que, caso contrário, nunca estariam nos noticiários. Um dos mais importantes jornalistas americanos de todos os tempos, Talese considera que para ser um bom repórter (e escritor) é necessária a combinação de curiosidade; paciência; e perseverança. Paciência esta que deve ser dedicada a ouvir e a passar tempo com outras pessoas. "Ordinary people can be extraordinary", ele explica.
O artigo que o consagrou, publicado na revista Esquire, Frank Sinatra has a cold, foi escrito sem que o jornalista tivesse conseguido falar com Sinatra, pois ele não queria recebê-lo. "I didn't really wanted to talk to him either", brinca Talese, que partiu para conversar com a entourage que cerca qualquer artista e, a partir destes personagens, construiu o perfil que inaugurou o New Journalism.
Neste clima irônico, Talese conduziu mais do que deixou ser conduzido pela entrevista de Mario Sérgio, editor da revista Piauí, até que foi surpreendido por uma pergunta desconcertante, sobre seu próximo livro. Acontece que Gay Talese está agora escrevendo sobre seu casamento de 50 anos com uma grande editora americana, e Conti lhe perguntou sobre o possível constrangimento que poderia causar, já que haviam boatos que o livro falaria sobre casos extra-conjugais de ambas as partes. A pergunta não agradou mais ao autor do que à plateia, mas Talese saiu-se tão elegante quanto suas roupas dignas do filho de um alfaiate, e respondeu, indiretamente, dizendo que acreditava ser possível combinar não-ficção com intimidade, sempre com respeito "and that's all I have to say about that", encerrou. Nancy, da primeira fila, sussurrou "very good" ao companheiro, e assim, com uma pequena saia-justa, terminou uma das mesas mais esperadas da Flip de 2009.
Quando saimos da tenda, a noite já era oficial, e o momento era de encontrar conhecidos, reconhecer queridos, e conhecer desconhecidos no entorno do café. Alguns seguiram para a mesa seguinte, do Lobo Antunes, enquanto outros, como eu, foram passear. Na Tenda do Telão, estava a Livraria da Vila, a revista Piauí, e outros expositores aos olhares curiosos. Foi passando por lá, que, novamente, cruzei com Talese, que se dirigia a uma entrevista. Não tive dúvidas e o abordei, dizendo que era sua fã, e uma jornalista apaixonada por livros, assim como ele. Ele me agradeceu, se apresentou e apertou minha mão, eu disse que estava gostando muito de seu mais recente livro, ao que ele respondeu com um sorriso cordial. Depois, ele me perguntou se eu ficaria ou seguiria com ele, ao que eu achei melhor não me estender, e fiquei observando aquele senhor de cabeça branca, esguio, de terno, colete e chapéu cinzas, caminhar para longe.
Entendi que minha noite tinha sido ganha, e segui para um aperitivo nos bares de mesa nas calçadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário