terça-feira, 31 de março de 2009

na natureza selvagem

Sei que estou atrasada, mas nunca é verdadeiramente tarde para se descobrir boas coisas –Dostoiévski na minha mesinha de cabeceira que o diga. Assisti o premiadíssimo Into the Wild (2007), roteiro e direção de Sean Penn. Ele, que esse ano levou o Oscar de melhor ator por sua atuação em Milk, fez um belíssimo trabalho nessa adaptação para o cinema de uma história tão envolvente quanto verídica. O best-seller de não-ficção no qual Penn se baseou data de 1996 e conta a saga de Christopher McCandless, um rapaz da classe média americana que, no início da década de 90, após se formar, desaparece no mundo.

O livro de Jon Krakauer surge a partir da descoberta do corpo de um rapaz de 24 anos em um ônibus abandonado no Alasca e reconstrói as aventuras de suas viagens ao longo dos dois anos em que esteve desaparecido. McCandless adotou um pseudônimo, Alexander Supertramp (isso mesmo, supertramp) e cortou qualquer contato com sua família e amigos. Durante sua jornada, conheceu pessoas que foram fundamentais na pesquisa de reconstituição do autor. Quando chega a seu destino final – Alasca – o objetivo era conseguir viver ali, em absoluta solidão, durante 100 dias. Tudo isso com apenas 5kg de arroz, sem mapa, sem bússola e na companhia de Tolstói e Robinson Jeffers – o moço era um leitor voraz. Christopher/Alexander acaba encontrando por acaso este ônibus abandonado que passa a ser seu lar durante 112 dias e, também, o lugar onde morre. Junto com o corpo acharam um diário e fotos feitas por ele próprio, que também ajudaram na reconstrução dos fatos. O rapaz, que tinha uma relação muito conturbada com a família e a sociedade, aparentemente embarcou nessa jornada com objetivo de encontrar sentido para ele mesmo. O resultado, nunca saberemos, mas em sua carta de despedida, dois dias antes de morrer, ele cita o poema Wise men in their bad hours:

Death's a fierce meadowlark: but to die having made

Something more equal to centuries

Than muscle and bone, is mostly to shed weakness.

The mountains are dead stone, the people

Admire or hate their stature, their insolent quietness,

The mountains are not softened or troubled

And a few dead men's thoughts have the same temper.


E acrescenta: "Tive uma vida feliz, graças ao senhor. Adeus e que Deus abençoe a todos!"

O livro homônimo que deu origem ao filme é mais um de Jon Krakauer, alpinista que ficou conhecido por narrar histórias de aventuras na montanha, que, como seu outro sucesso, No ar rarefeito, foi muito bem recebido pela crítica. Se é melhor, não sei, mas o livro já sai em uma grande desvantagem: falta a maravilhosa trilha sonora de Eddie Vedder, que faz do filme, imperdível.

Jon Krakauer. Na natureza selvagem. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

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