tempo de permanência

ando viciada - tardiamente, eu sei - em Mad Men. a série se passa no início da década de 1960, em uma agência de publicidade na Madison Avenue. além de todo o charme (e alcoolismo) notórios da época, a história e os personagens são deliciosamente inesquecíveis. outro dia, porém, uma cena me fez pensar sobre a diferença entre os relacionamentos de então e agora e como as pessoas lidavam com seus problemas - ainda que seja tudo ficção. certa noite, o personagem principal, Don Draper, e sua mulher tiveram uma briga. nada grave, mas um desentendimento de casal que se estendeu por dias, até que, finalmente, conversaram sobre o episódio e deixaram para trás. 

a ideia de ficar dias com um problema não resolvido, seja pessoal ou profissional, pode parecer inaceitável para a nossa geração, e penso que isso tem muito a ver com a permanência. naquela época, os casamentos (costumavam) durar para sempre. as pessoas entravam em uma empresa para construir carreira e ficar a vida toda. se você encara algo como duradouro, as questões são muito mais passageiras e o tempo, relativamente curto. o que é uma semana perto de 50 anos? 

olhamos para nossas avós e bisavós com muito julgamento pela maneira como elas lidavam com a vida. pela aceitação que tinham para com seus maridos e nos trabalhos, se esse fosse o caso. mas a verdade é que, a meu ver, elas sabiam mesmo colocar as coisas em perspectiva. essa noção do tamanho que um problema tem parece nos faltar. queremos resolver tudo rápido, queremos que a dor passe depressa, que as respostas apareçam de uma vez. mas dificilmente nossa cabeça consegue processar tudo isso. como resultado, trocamos de parceiros como se eles fossem descartáveis, esperando resolver no próximo o que ficou pelo caminho. trocamos de emprego a cada vez que temos uma semana, um mês ruim, só para descobrir que outros problemas também surgirão em seguida. e acabamos, por fim, todos no divã de um analista, tentando resolver o que a pressa não permitiu... viver. 

uma ótima semana a todos!