quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

participação especial

Assim como eu, ele também é carioca, jornalista e flamenguista. é muito querido e, em breve, será também família.

Sabe aquela história boy-meets-girl e boy fica todo bobo? Pois é. mas o rapaz transformou a paixonite em crônica. ei-la.

Groove on up

por Felipe Lobo

O cara nasceu em 1942, nos Estados Unidos, mas embalava o início da noite daquela quarta-feira em uma casa de Santa Tereza. Groove on up, Mayfield, you do so many things with a smiling face. So in Love. Se o som faz bem aos ouvidos, o pôster da Janis Joplin pregado à parede cura os olhos cheios de fumaça dos carros e ônibus que não pedem licença pela avenida Rio Branco. Superfly, Curtis, we don`t always mean the things we sometimes do. Move on up. Mas aquilo eu sentia e queria. O dia começou intenso, porque o anterior acabou ainda mais. Pés descalços, sapato, camisa social, labuta diária. Sol escaldante, pessoas andando, bonde por cima dos Arcos da Lapa. A boemia carioca já não é mais a mesma. Mas quando chega o carnaval, é chinelo de dedo, energia que pulsa e lá vem ela, de volta, como se não houvesse amanhã. I’m so proud, The Impressions.

O horário de verão iluminava as ladeiras tortuosas de Santa quando finalmente cheguei ao tradicional Bar do Gomes. Cerveja gelada e bloco na mão, se existe um sentido, passava por ali. Santo Mayfield, you don’t need no baggage, you just get on board. It’s all right. Garrafas pela parede, atmosfera saudosa e sorrisos nas ruas, combinação para lá de perfeita. Sim, era uma quarta-feira qualquer no Rio daquele mês de janeiro, em que a noite escura precisa mandar o azul descansar. A batalha é árdua, mas ganha.

Ela nasceu em São Paulo, em 1990, só que divide uma casa em Santa Tereza. Naquela quarta-feira, chegou antes da lua. Prestes a fazer 18 anos, começou a rodar o mundo. Groove on up, Prestes, choice of colours, verde e amarelo na parede, doce e salgado, arte no Globo. O volume de cd’s na sala não engana: a paulista mais carioca que eu conheci gosta de música. Vive com a música. Trabalha por ela e para ela. A companhia de um gato, a cadeira de praia, só alegria. I’m so proud, Mayfield, every time we kiss is such a pleasant taste.

Na vida, ela não foge da tempestade. Aprendeu a dançar na chuva. Seja a pé, no moto táxi, no carro, no trem, ou no ônibus. O estilo inunda seus ouvidos, e ela rema pelas ondas sem saber surfar. Parece que flutua. Mas os pés estão no chão. Fincados. Seguros. Ela sabe para onde vai, norte ou sul, leste ou oeste, ocidente ou oriente. África. Rio de Janeiro. Sem destino, parece que o tem nas pontas dos dedos. Life is crazy, believe me, it’s true. Ela sabe disso, Curtis, mais do que ninguém. Não perde o passo, mesmo se estiver fora de ritmo.

De espírito livre e lábios que dizem ainda mais quando cerrados, ela é linda. Lay me down, rest awhile, you’re moving my emotions. E ela as minhas, Mayfield. Move on up.

Prestes a encerrar aquela quarta-feira de janeiro, no Rio, lá estava ela, em Santa.

Foi este o dia em que a conheci.

Um comentário:

  1. IRADO! Esse cara e um genio da cronica! Sou fa! O Brasil precisa de pessoas assim, apaixonadas!

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