terça-feira, 6 de outubro de 2009

criticando

Nos últimos dias, uma autora muito querida pediu minha leitura crítica de seu manuscrito. Antes de começar a ler, passei alguns minutos tentando limpar minha cabeça de associações pessoais, tudo para dar a minha contribuição tão livre quanto possível. De nada adiantou.

Se a cada novo livro toda leitura que fazemos é, por essência, crítica, como organizar essas ideias e dissocía-las das emoções que a narrativa nos proporciona? Sim, porque à exceção dos livros de não-ficção, e mesmo assim os mais teóricos, cada capítulo é uma experiência emocional. Pensei nisso a partir de um texto que outro querido - esse nada ficcional - escrevera para um blog sobre a venda de empresas. Em seus argumentos, ele separava as dificuldades de uma tomada de decisão entre os aspectos 'emocionais' e os 'racionais'.


Pois devo dizer que editores são mesmo seres atípicos, porque, para mim, tal separação na literatura é impensável. Tampouco sei se os próprios editores conseguem fazê-la. Uma delas, americana que sigo no Twitter, ao falar sobre as dificuldades de recusar um original, dizia coisa parecida. Que muitas vezes, a única resposta que você tem para dar é que "não me cativou". E assim, com essas três palavras, frustrar o trabalho árduo de um autor.




Letras não são números. Pessoas não são empresas. Sabe-se que muitas estratégias de comunicação apelam à emoção de seu público-alvo. Aprendemos isso logo cedo na faculdade. Quantos anúncios em jornal não vemos com filhotes de cachorroirresistíveis, apenas para vender um imóvel? Ou anúncios de TV cuja trilha sonora foi feita especialmente para aflorar os mais profundos sentimentos e promover um remédio?




Se isso é praxe para a venda de produtos, digo que o leitor não é um consumidor comum. Um computador de última geração pode significar mais para mim do que para você, mas o objeto de desejo do leitor é infinitamente mais abstrado. O que o atrai naquele livro? O que lhe faz mudar a página? E ainda, a pergunta que toda editora gostaria de saber responder racionalmente: por que comprar aquele livro, dentro de tantas opções? Se for capaz de responder a todas essas perguntas quando terminar a última página, parabéns, você é um bom crítico.


Mas e quanto aos outros leitores, qual será a justificativa deles? As respostas são múltiplas. Enquanto reconhecimento do autor, atratividade da linguagem e qualidade da narrativa são alguns deles, pertinência do assunto, representação na sociedade e timing são outros.


Por isso, como crítica, só posso ir tão longe quanto dizer o que aquele livro significa para mim, leitora, jornalista, carioca, jovem. Quanto ao gosto do público, bem, a isso basta dizer que Augusto Cury divide a lista dos mais vendidos com Stieg Larsson...


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