domingo, 19 de julho de 2009

Cuide de você

até 7 de setembro, o SESC Pompeia (SP), recebe a mostra cuide de você, da artista francesa Sophie Calle.
Sophie, escritora, fotógrafa e artista conceitual, cujos trabalhos são marcados pelos limites entre vida pública e privada, frequentemente gera polêmicas e críticas acerca de suas propostas. Certa vez, pediu que a mãe contratasse um detetive para seguí-la pelas ruas de Paris e, a partir daí, explorar sua própria interioridade através da forma como ela se comportava em público. Em outro trabalho, usou uma caderneta de endereços que encontrou no chão para compor o perfil de um perfeito desconhecido: ligou para todas as pessoas que ali estavam e conversou sobre o dono da agenda, de quem também tirou fotos (e que mais tarde a processou por tudo isso).
Mas seu mais recente trabalho teve origem a partir de uma carta de rompimento. Misturando sua vida pessoal com a atividade profissional, uma das marcas mais fortes de sua produção artística, Sophie convocou uma centena de mulheres, das mais diferentes profissões, a analisar a carta que acabara de receber de seu então namorado, na qual ele terminava o relacionamento. Às mulheres, pediu que tratassem a carta por um ponto de vista profissional, pois queria fazer uso dos vocabulários técnicos próprio a cada uma, em vez do sentimentalismo feminino.
Com a palavra, Sophie Calle:
Recebi uma carta de rompimento.
E não soube respondê-la.
Era como se ela não me fosse destinada.
Ela terminava com as seguintes palavras: "Cuide de você".
Levei essa recomendação ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão,
para interpretar a carta do ponto de vista profissional.
Analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Esgotá-la.
Entendê-la em meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim.
E foi exatamente isso que as personagens dessa exposição fizeram: esgotaram a carta. Foram análises gramaticais, jurídicas, diplomáticas, artísticas, simbólicas e sintáticas. Uma das maiores forças da exposição é sem dúvida esse múltiplo desdobramento e plurisignificação que o texto adquire diante de nossos olhos. Ali, nas paredes, junto com as "respostas", estão belíssimas fotos dessas leitoras intervencionistas. O barato é curtir esse impacto visual e essa riqueza de olhares, porque é difícil conseguir ler e apreciar as 107 cartas-respostas na própria galeria. Pensando nisso, a organização disponibiliza um arquivo com esses textos, que é possível acessar via internet.
De todo modo, Sophie Calle consegue, neste trabalho essencialmente literário, expor algumas das nossas fragilidades como mulheres e como profissionais e contar uma história - a sua história - de término, que não se esgota com o fim.
Penso nela como uma contadora de histórias.
O que é interessante é que sua vida e sua arte são a mesma coisa.
Ela faz isso para se manter viva, para criar uma realidade para si mesma.
É uma combinação rara.
Paul Auster

Um comentário:

  1. bom post!, fechando com o ótimo comentário de Paul Auster.
    bjs
    livia

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