terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Leitor

Na última semana, assisti um dos filmes fortes do Oscar deste ano: O Leitor, baseado em um romance homônimo. Não tive a oportunidade de ler o livro escrito por Bernhard Schlink, um advogado alemão que supostamente fez uma autobiografia de sua adolescência, mas Holocausto e verossimilhanças à parte, o filme é extremamente sensível e belo, muito delicado e bem feito em todos os aspectos. Ainda que o romance entre o menino e a mulher e as questões éticas da matança sobressaiam, a história do filme é, basicamente, sobre uma analfabeta que descobre com um jovem de 15 anos o prazer da leitura. Não é antes dos 60 anos que esta mulher aprende, finalmente, a ler, ao som de um gravador com a contação de histórias do rapaz. 

Não pude deixar de associar a trama à nova versão do Kindle, leitor de e-books da Amazon, que agora ganhou uma função que permite ao leitor escutar uma narração dos livros comprados. Tiremos o gap de quase 70 anos e resta a experiência semelhante. A mim nunca parece completoo ato de "ouvir" um livro. Em alguns casos, pode ser inclusive mais prazeroso - lembro de todas as vezes em que minha avó me contou histórias, algumas suas, que sempre pareciam muito mais incríveis em sua boca do que no papel. Mas quando escuto alguém contar uma história, necessariamente centenas de outras morrem na minha cabeça. Um pouco o que acontece com o cinema, quando se apropria de uma obra literária e adapta para um roteiro, o que torna imediatamente inviável assistir primeiro ao filme para depois ler o livro. O rosto do personagem, as expressões com as quais ele reage, as cores dos cenários, os cheiros das ruas... Todas essas criações são menos do autor e mais nossas, dos leitores, que assim como no filme podem ser melhores ou piores um do que o outro na função. Talvez se tivesse sido outra pessoa a ler A Odisséia para a ex-soldada nazista, ela jamáis quisesse aprender a ler. Porque, ao meu ver, mais do que o que lemos, é como e quando lemos que faz uma grande história.   

Kate Winslet, que já provou sua força em filmes como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Titanic, é uma fortíssima candidata ao prêmio máximo da academia concorrendo com Maryl Streep e Angelina Jolie. Meus votos vão para ela, que também foi muito elogiada por sua performance em outra adaptação da literatura para as telonas em cartaz: Foi Apenas um Sonho, dirigido por seu marido.

Fã assumida que sou de adaptações de romances ao cinema, já estou esperando minha cópia via correio para ler o livro de Richard Yates, que promete ser maravilhoso. Depois conto minhas impressões...   

4 comentários:

  1. parabéns pelo blog, Anaik!
    Na verdade estou bisando os parabéns porque os anterior não chegou ao destino. Torçamos para que este não se perca nas malhas da história que você analisa tão bem.
    Beijos,
    Livia

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  2. Anaik, bem-vinda ao mundo encantado dos blogs. Vou ficar freguesa e te linkar no Doidivana. Eu também adorei O Leitor e pra mim o Oscar vai pra Kate sem dúvida alguma. Um beijo de paulistana pra quase paulistana

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  3. Adorei o seu blog! Gostei muito da sua crítica sobre os e-books...
    Boa sorte na nova empreitada.

    Beijos e quero te ver no carnaval!
    Lorena

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  4. Anaik,
    parabéns pelo blog. A Livia me trouxe aqui. É a segunda postagem que leio e já gostei.
    Também adorei o filme O Leitor. Não costumo assistir a um filme antes de ler o livro, mas nesse caso abri uma exceção, pois a crítica estava excelente.
    Para você que adora adaptações, indico Desejo e Reparação. Mas aviso que, nesse caso, o filme deixa a desejar em relação ao livro que é não menos do que excelente (Reparação de Ian McEwan).

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