Na semana passada, dois eventos simultâneos me fizeram pensar sobre o que lemos e quanto leremos.
A Feira de Frankfurt alimentou as esperanças até dos mais descrentes. Além da China, país cuja literatura não tem nenhuma tradição internacional, ter sido o país homenageado, roubaram a cena aqueles que representam o futuro do mercado editorial. De um lado, o Google e sua batalha pela criação de uma biblioteca eletrônica universal através da digitalização de títulos. Do outro, Amazon, Sony e, mais recentemente, Barnes & Noble, apostam suas fichas na vedete do momento, os e-readers.
Já o I Seminário de Estratégia de Comunicação e Marketing da The George Washington University, realizado nos dias 16 e 17 em São Paulo, era sobre O efeito obama. Não no sentido político, mas em referência às transformações que a campanha do atual presidente americano fez no campo da comunicação ao elevar o valor das redes sociais, internet e novas mídias. O crescimento de ferramentas como blogs, Twitter e Facebook há muito é reconhecido, mas foi a partir do "efeito obama" que passou a ser levado à sério e incorporado às estratégias empresariais e políticas ao redor do mundo.
Impossibilitada por um Oceano Atlântico de estar no primeiro, fui ao segundo por cortesia do Instituto Empreender Endeavor, um dos parceiros do evento. Mas, afinal, resta a questão. Estamos nos encaminhando para uma sociedade de mensagens rápidas, difusas, personalizadas e, consequente menos leitura? Todo texto que tenha mais de três linhas será grande demais para ser comunicado, na mesma medida em que um debate político pode ser duradouro demais para ser assistido? Ou é exatamente o oposto, e as tecnologias funcionarão como suporte para a democratização da leitura (Google) e facilitação do ato de ler (e-readers)?
Talvez as duas coisas. Provável que uma saída para a enorme quantidade de informação a que somos expostos diariamente seja a condensação das mesmas. Assim, só paro para dedicar uma hora de leitura ao que realmente me interessa, enquanto posso ficar a par de todo o resto com uma passada de olhos no Twitter, em cinco minutos. Na edição deste sábado, a Veja entrevistou o criador do Twitter, e ele disse que uma das grandes vantagens do microblog é o fato deste ser unilateral. Ou seja: ao contrário do e-mail, do telefonema e até do Facebook, ninguém espera de você uma resposta. Podemos ser twittadores passivos, ufa, um respiro. Já William Bonner confessou no mesmo final de semana à Marília Gabriela que gosta do Twitter porque lá ele pode não ser sério. Outro alívio.
Serão as novas mídias um escape para a avalanche cotidiana ao mesmo tempo em que são um refúgio para quem ainda quer, no meio de um aeroporto lotado, parar e ler um livro que cabe no bolso?
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